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Grupo de Pesquisa ORÍ da Unespar e Grupo de Pesquisa DOBRA da UEM participam da Exposição "Receita de Vó é igual amor: não tem medida" em Maringá

Geral, Pesquisa

por Helio Sauthier publicado: 26/08/2024 07h31 última modificação: 26/08/2024 07h31

O Grupo de Pesquisa ORÍ, do Campus Curitiba II/FAP da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), integrou a exposição "Receita de Vó é igual amor: não tem medida" da artista Annelise Nani da Fonseca, com curadoria de Roberta Stubs, realizada na cidade de Maringá, no norte do Paraná.

Liderado pelo professor Cleberson D. Maddox, o Grupo de Pesquisa ORÍ, em parceria com o Grupo de Pesquisa DOBRA, da Universidade Estadual de Maringá, liderado pela professora Roberta Stubs, atuou na divulgação e incentivo da exposição. Com textos críticos da curadora Roberta Stubs e de Ana Mae Barbosa, a mostra trouxe à tona um movimento feminista e decolonial, explorando a cozinha da avó da artista como ponto de partida.

As obras expostas são fruto das vivências de Annelise Nani da Fonseca durante o confinamento na casa de sua avó materna, em virtude da pandemia da COVID-19. A curadora Roberta Stubs explica que a artista desenvolveu uma investigação autobiográfica, utilizando memórias e objetos para alcançar um imaginário popular afetivo, evocando as avós da maioria dos brasileiros em uma estética kitsch.

A exposição foi realizada no Centro de Ação Cultural Márcia Costa (CAC) e contou com visitas mediadas, abertas a toda a comunidade, proporcionando uma experiência enriquecedora e reflexiva sobre as políticas de cuidado e o papel das mulheres na sociedade.

Em breve, no instagram do grupo @d.o.b.r.a será divulgado o texto da curadoria e de Ana Mae Babosa, como também o catálogo da exposição.

Confira abaixo, a entrevista exclusiva que a artista Annelise Nani da Fonseca deu ao Grupo ORÍ:

 

Inspiração e Conceito 

Annelise, o título da sua exposição, "Receita de Vó é igual amor: não tem medida", evoca 

uma sensação de nostalgia e afeto. Poderia nos contar um pouco mais sobre a inspiração por

trás desse tema e como ele se conecta com suas memórias pessoais e familiares?

 

O tema da exposição surgiu a partir dos azulejos da cozinha da minha avó, que viveu por cerca de 50 anos na mesma casa. Essa casa está sendo vendida agora, e minha avó foi uma das pioneiras da cidade. Ela faleceu antes da pandemia, mas eu passei o período pandêmico morando na casa dela, revivendo todas essas memórias e lidando com um luto mal elaborado. Comecei com a pintura, depois explorei o stencil, o bordado e os objetos. Minha avó era boleira e vendia bolos; ela fazia muitos bolos para nós. Comecei a explorar essas memórias, procurando objetos que já não estavam mais lá antes dela falecer, memórias distantes. Tudo partiu dessas emoções. Minha avó sempre nos ensinou a cozinhar; ela tinha 11 netos e fazia bolos para nossos aniversários, casamentos, são memórias da vida. Ela faleceu em 2018, meses antes de morrer, eu estava terminando a faculdade de psicologia, e ela fez um bolo para eu levar ao CAPs, onde eu fazia estágio.

 

Processo Criativo

Como foi o seu processo criativo para desenvolver as obras desta exposição? Houve algum momento ou memória

específica que guiou a criação das peças?

 

 

O processo criativo foi profundamente pessoal e emocional. A partir das memórias da minha avó e dos objetos da sua cozinha, comecei a explorar diferentes técnicas artísticas. Cada peça é uma tentativa de capturar a essência dessas memórias e sentimentos. A pandemia, o luto e a nostalgia foram elementos centrais que guiaram a criação das obras.

 

Interpretação e Significado

Quais são os principais elementos e símbolos que você utilizou nas suas obras para transmitir

a ideia de que o amor e as receitas de vó não têm medida? Como espera que o público

interprete e se conecte com essas mensagens?

 

Os principais elementos que utilizei são objetos de cozinha, como caminhos de mesa, talheres, assadeiras, vasilhas, panos de prato, bandejas e tábuas. Explorei todas essas materialidades com a estética do cotidiano que Ivone Richter menciona, mas também me inspirei em poetisas brasileiras como Adélia Prado e Cora Coralina. Em relação à interpretação do público, trabalho com uma abordagem ambígua, utilizando minha licença poética para não apenas reproduzir frases da minha avó, mas também para analisar criticamente sua vida, seu papel e os atravessamentos políticos de sua existência, além do impacto da pandemia, que nos fez perder muitas avós. Há uma influência claramente feminista e decolonial, além da escolha dos objetos e técnicas, trazendo uma influência da moda, dos tecidos, da repetição e das séries, refletindo minha origem em uma confecção.

 

Colaboração com a Curadora

Como foi trabalhar com a curadora Roberta Stubs para esta exposição? De que maneira a

colaboração com ela influenciou a apresentação e a narrativa das suas obras?

 

Trabalhar com a Roberta Stubs foi uma experiência muito gratificante. Desde a escolha dos nomes das obras até a difícil decisão do que incluir ou não na exposição, tudo foi feito de forma colaborativa. Tenho uma relação pessoal com Roberta, e o texto crítico de Ana Mae foi extremamente emocionante, complementando a emoção do texto de Roberta. Ambas são minhas amigas, e isso transborda nos textos que elas trouxeram para a exposição.

 

Impacto e Reflexão

Qual é o impacto que você espera que a exposição tenha nos visitantes? Há alguma reflexão

ou sentimento específico que você deseja despertar no público ao explorar suas obras?

 

Não há algo específico que eu queira despertar, mas espero que os visitantes olhem para o cotidiano de forma mais poética, refletindo sobre as políticas de cuidado e como isso pesa sobre as mulheres. Não escondo a raiva, mas exploro isso poeticamente. Gosto da ambivalência das flores, do que é colorido e rococó, mas que também tem uma camada de problematização.

 Para mais informações a respeito da exposição, acessar a página no instagram do Grupo de Pesquisa @d.o.b.r.a

 Imagens de @bullajr