Grupo de Pesquisa ORÍ da Unespar e Grupo de Pesquisa DOBRA da UEM participam da Exposição "Receita de Vó é igual amor: não tem medida" em Maringá
Geral, Pesquisa
O Grupo de Pesquisa ORÍ, do Campus Curitiba II/FAP da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), integrou a exposição "Receita de Vó é igual amor: não tem medida" da artista Annelise Nani da Fonseca, com curadoria de Roberta Stubs, realizada na cidade de Maringá, no norte do Paraná.
Liderado pelo professor Cleberson D. Maddox, o Grupo de Pesquisa ORÍ, em parceria com o Grupo de Pesquisa DOBRA, da Universidade Estadual de Maringá, liderado pela professora Roberta Stubs, atuou na divulgação e incentivo da exposição. Com textos críticos da curadora Roberta Stubs e de Ana Mae Barbosa, a mostra trouxe à tona um movimento feminista e decolonial, explorando a cozinha da avó da artista como ponto de partida.
As obras expostas são fruto das vivências de Annelise Nani da Fonseca durante o confinamento na casa de sua avó materna, em virtude da pandemia da COVID-19. A curadora Roberta Stubs explica que a artista desenvolveu uma investigação autobiográfica, utilizando memórias e objetos para alcançar um imaginário popular afetivo, evocando as avós da maioria dos brasileiros em uma estética kitsch.
A exposição foi realizada no Centro de Ação Cultural Márcia Costa (CAC) e contou com visitas mediadas, abertas a toda a comunidade, proporcionando uma experiência enriquecedora e reflexiva sobre as políticas de cuidado e o papel das mulheres na sociedade.
Em breve, no instagram do grupo @d.o.b.r.a será divulgado o texto da curadoria e de Ana Mae Babosa, como também o catálogo da exposição.
Confira abaixo, a entrevista exclusiva que a artista Annelise Nani da Fonseca deu ao Grupo ORÍ:
Inspiração e Conceito
Annelise, o título da sua exposição, "Receita de Vó é igual amor: não tem medida", evoca |
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uma sensação de nostalgia e afeto. Poderia nos contar um pouco mais sobre a inspiração por |
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trás desse tema e como ele se conecta com suas memórias pessoais e familiares? |
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O tema da exposição surgiu a partir dos azulejos da cozinha da minha avó, que viveu por cerca de 50 anos na mesma casa. Essa casa está sendo vendida agora, e minha avó foi uma das pioneiras da cidade. Ela faleceu antes da pandemia, mas eu passei o período pandêmico morando na casa dela, revivendo todas essas memórias e lidando com um luto mal elaborado. Comecei com a pintura, depois explorei o stencil, o bordado e os objetos. Minha avó era boleira e vendia bolos; ela fazia muitos bolos para nós. Comecei a explorar essas memórias, procurando objetos que já não estavam mais lá antes dela falecer, memórias distantes. Tudo partiu dessas emoções. Minha avó sempre nos ensinou a cozinhar; ela tinha 11 netos e fazia bolos para nossos aniversários, casamentos, são memórias da vida. Ela faleceu em 2018, meses antes de morrer, eu estava terminando a faculdade de psicologia, e ela fez um bolo para eu levar ao CAPs, onde eu fazia estágio.
Processo Criativo |
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Como foi o seu processo criativo para desenvolver as obras desta exposição? Houve algum momento ou memória |
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específica que guiou a criação das peças? |
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O processo criativo foi profundamente pessoal e emocional. A partir das memórias da minha avó e dos objetos da sua cozinha, comecei a explorar diferentes técnicas artísticas. Cada peça é uma tentativa de capturar a essência dessas memórias e sentimentos. A pandemia, o luto e a nostalgia foram elementos centrais que guiaram a criação das obras.
Interpretação e Significado |
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Quais são os principais elementos e símbolos que você utilizou nas suas obras para transmitir |
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a ideia de que o amor e as receitas de vó não têm medida? Como espera que o público |
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interprete e se conecte com essas mensagens? |
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Os principais elementos que utilizei são objetos de cozinha, como caminhos de mesa, talheres, assadeiras, vasilhas, panos de prato, bandejas e tábuas. Explorei todas essas materialidades com a estética do cotidiano que Ivone Richter menciona, mas também me inspirei em poetisas brasileiras como Adélia Prado e Cora Coralina. Em relação à interpretação do público, trabalho com uma abordagem ambígua, utilizando minha licença poética para não apenas reproduzir frases da minha avó, mas também para analisar criticamente sua vida, seu papel e os atravessamentos políticos de sua existência, além do impacto da pandemia, que nos fez perder muitas avós. Há uma influência claramente feminista e decolonial, além da escolha dos objetos e técnicas, trazendo uma influência da moda, dos tecidos, da repetição e das séries, refletindo minha origem em uma confecção.
Colaboração com a Curadora |
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Como foi trabalhar com a curadora Roberta Stubs para esta exposição? De que maneira a |
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colaboração com ela influenciou a apresentação e a narrativa das suas obras? |
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Trabalhar com a Roberta Stubs foi uma experiência muito gratificante. Desde a escolha dos nomes das obras até a difícil decisão do que incluir ou não na exposição, tudo foi feito de forma colaborativa. Tenho uma relação pessoal com Roberta, e o texto crítico de Ana Mae foi extremamente emocionante, complementando a emoção do texto de Roberta. Ambas são minhas amigas, e isso transborda nos textos que elas trouxeram para a exposição.
Impacto e Reflexão |
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Qual é o impacto que você espera que a exposição tenha nos visitantes? Há alguma reflexão |
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ou sentimento específico que você deseja despertar no público ao explorar suas obras? |
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Não há algo específico que eu queira despertar, mas espero que os visitantes olhem para o cotidiano de forma mais poética, refletindo sobre as políticas de cuidado e como isso pesa sobre as mulheres. Não escondo a raiva, mas exploro isso poeticamente. Gosto da ambivalência das flores, do que é colorido e rococó, mas que também tem uma camada de problematização. |
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Para mais informações a respeito da exposição, acessar a página no instagram do Grupo de Pesquisa @d.o.b.r.a
Imagens de @bullajr